terça-feira, 28 de agosto de 2012

Meditação - James Ingall Wedgewood

O primeiro passo na meditação consiste em cultivar o pensamento, até que se torne habitual, de que o corpo físico é um instrumento do espírito. Os que recém tomaram conhecimento do pensamento teosófico acham no começo difícil de reverter seus pontos de vista; para eles a alma e o espírito são irreais. Os planos e corpos, dos quais os escritores Teosóficos falam em suas tentativas de transmitir com clareza e precisão científica um pequeno vislumbre dos mistérios do ser humano, são memorizados em termos de algum diagrama, sendo cada nome evocado com um esforço da memória. O corpo físico é a única realidade tangível e o corpo supra-físico uma evanescente e vaga, mera concepção intelectual. Mas gradualmente e quase imperceptivelmente este sentimento é abandonado; um sentimento de percepção do supra-físico começa a agir no cérebro físico e a dar vida ao que antes era uma simples teoria intelectual. MEDITAÇÃO PARA INICIANTES - 2 - CONCENTRAÇÃO A meditação é usualmente dividida em três estágios: Concentração, Meditação e Contemplação. Poderia ser ainda mais subdividida, mas é desnecessário fazê-lo aqui; de outra parte, o iniciante deveria manter em mente que a meditação é uma ciência para toda a vida, de modo que não deve esperar atingir o estágio da pura contemplação em seus primeiros esforços. A concentração consiste em focalizar a mente em uma única idéia e mantê-la ali. Patanjali, o autor do clássico hindu Aforismos do Yoga, define Yoga como “a suspensão das modificações do princípio pensante”. Esta definição é aplicável à concentração, ainda que Patanjali provavelmente vá além em seu pensamento e inclua a cessação da faculdade mental de construção de imagens e de todas as expressões concretas do pensamento, virtualmente assim passando além do estágio da mera concentração para o da contemplação. Para poder se concentrar, então, é necessário ganhar controle sobre a mente e aprender por prática gradual a estreitar seu leque de atividades, até que se torne unidirecionada. Alguma idéia ou objeto é escolhido sobre o qual concentrar-se, e o passo inicial é eliminar da mente todo o resto, excluir portanto, toda a corrente de pensamentos alheios ao assunto, que dançam ante a mente como as imagens cambiantes do cinema. É verdade que muito da prática inicial do estudante deverá ser nos estágios inicias esta forma de exclusão repetida de pensamentos; e pôr-se a fazer isso é um treinamento excelente. Mas há uma outra, e muito melhor maneira de atingir a concentração; consiste em se tornar tão interessado e absorvido no tema escolhido, que todos os outros pensamentos são por isso mesmo excluídos da mente. Estamos constantemente fazendo isso em nossas vidas diárias, inconscientemente e por força do hábito. Escrever uma carta, fazer contas, tomar grandes decisões, resolver problemas difíceis, todas estas coisas colaboram para que a mente seja induzida a um estado mais ou menos profundo de concentração. O estudante deve aprender a consegui-la à vontade, e será mais bem-sucedido cultivando o poder e o hábito de observar e prestar atenção aos objetos externos. Tome qualquer objeto: um porta-canetas, um pedaço de papel, uma folha, uma flor, e note os detalhes de sua aparência e estrutura que normalmente passam despercebidos; enumere uma por uma suas propriedades, e logo achará o exercício de um interesse absorvente. Se for capaz de estudar o processo de sua manufatura ou crescimento, o interesse aumentará ainda mais. Nenhum objeto na natureza é de fato completamente tosco ou desinteressante; e quando algo se nos aparece assim, a falha em apreciar a maravilha e a beleza de sua manifestação reside em nossa própria falta de atenção. Como auxílio à concentração, é bom repetir em voz alta as ideias que lhe passam pela mente. Assim; este porta-canetas é preto; ele reflete a luz da janela em algumas partes de sua superfície; tem cerca de dezessete centímetros de comprimento, cilíndrico; sua superfície é gravada com um desenho; o desenho tem forma de galhos e é formado por séries de linhas gravadas muito juntas; e assim por diante à vontade. Desse modo o estudante aprende a retirar-se do mundo maior e fechar-se no pequeno mundo de sua escolha. Quando isso for conseguido satisfatoriamente terá atingido um certo grau de concentração; mas é evidente que haverá ainda muitos e diversos pensamentos rolando pela mente, ainda que todos em torno do porta-canetas. O falar em voz alta ajuda a diminuir a velocidade dessa corrente de pensamentos e evita que a mente devaneie. Gradualmente pela prática ele aprende a limitar ainda mais o círculo de pensamentos até que literalmente pode direcionar a focalização da mente para um só ponto. A prática acima é por natureza um pouco difícil de ser conseguida; requer um grau de aplicação estrênua, e, mais que tudo, pode aparecer algo fria ao estudante, já que desperta pouca emoção. Um outro exercício de concentração pode portanto ser feito correntemente, mas antes de descrevê-lo devemos dizer que o exercício anterior, em algum momento da carreira do estudante, precisa ser dominado. Algum grau de maestria nisso é pré-requisito para a visualização bem-sucedida; isto é, o poder de reproduzir mentalmente um objeto com minúcia de detalhes, sem ele estar visível aos olhos, e a visualização acurada, é uma parte necessária de muito do trabalho, que é feito pelos estudantes treinados em métodos ocultos, tais como a construção deliberada de formas-pensamento, e a criação mental de símbolos no cerimonial. Coerentemente, o estudante que for mesmo dedicado não negligenciará este tipo de trabalho por causa de sua dificuldade e por requerer aplicação. Ele também se porá a trabalhar na visualização, observando e perscrutando cuidadosamente um objeto, e então com os olhos fechados tentará fazer uma representação mental dele. O segundo método mencionado antes é o de não se concentrar sobre um objeto físico, mas sobre uma idéia. Se alguma virtude for tomada isso terá a vantagem de despertar o entusiasmo e a devoção do estudante, e essa é uma consideração muito importante nos estágios iniciais da prática, quando a perseverança e firmeza são com frequência, penosamente testadas. Além disso, os esforços constroem aquela virtude no caráter. Neste caso a concentração é mais dos sentimentos e menos evidentemente um processo mental. O estudante se esforça por reproduzir em si mesmo a virtude, digamos simpatia, pela qual anseia, e por força de manter-se numa única emoção, pelo poder da vontade eventualmente terá sucesso em sentir simpatia. É mais fácil ser unidirecionado no sentimento do que no pensamento, pois este último é mais sutil e ativo; mas se uma intensa concentração de sentimento puder ser induzida, a mente em certa medida a seguirá. MEDITAÇÃO PARA INICIANTES - 3 A meditação é a arte de considerar um assunto ou analisá-lo mentalmente em seus vários atributos e relações. Propriamente falando, o estágio de meditação não se segue diretamente à completa unidirecionalidade da mente que discutimos acima (meditação para iniciantes – 2), antes secunda aquele estágio de concentração relativa que baniu da mente todas as ideias alheias ao único assunto sob consideração; mas a eficiência de concentração será requerida à medida que cada variedade de meditação for trabalhada. Não precisamos ocupar mais espaço com outras definições de meditação, mas podemos passar imediatamente para certos esquemas da prática que ilustrarão sua natureza e método mais claramente que dissertações teóricas. Falamos acima no pensamento sobre a simpatia e podemos usá-lo como tema de meditação. MEDITAÇÃO SOBRE A SIMPATIA Reflita que como todas as outras virtudes esta é um atributo da Consciência Divina; tente entender sua natureza e função no mundo; considere-a como um poder unificante ligando um eu particular a outro. Compare-a com o amor: simpatia implica entendimento do outro e o poder de colocarmo-nos em seu lugar; amor não necessita implicar esse entendimento; por outro lado para sua completa expressão a simpatia requer um forte poder de motivação interna que só o amor pode conceder. Imagine a divina simpatia como se fluindo para o mundo através do homem ideal: o Cristo ou o Mestre; e então como se dirigida para alguém particular. O estudante deveria então com uma forte aspiração ativa mergulhar a si mesmo na corrente desta influência inefável que se irradia do Mestre, e procurar atingir o objeto de sua devoção. (Aqui o estágio da contemplação pode ser atingido). Ele deveria então pensar nessa virtude aplicada à sua vida cotidiana, aos seus amigos e pessoas amadas e mesmo àqueles com quem haja necessidade de um melhor entendimento; imagine-os um por um perante Ele e os envolva com a influência que está se derramando através dEle. Uma outra e mais elaborada meditação pode ser dada para o benefício daqueles que são incapazes de permanecer por qualquer período em um único pensamento. MEDITAÇÃO PARA EXPANDIR A CONSCIÊNCIA O estudante poderia elevar sua consciência e contemplar as imensidões do universo; a imagem dos céus estrelados, a suave radiância do pôr-do-sol, ou o pensamento do cosmos incluso no átomo infinitesimalmente pequeno, o ajudarão nisso, e poderá, se assim quiser, usar o método de elevar-se através dos corpos descrito antes neste livro. Então direcione seus pensamentos na mais alta aspiração em direção ao Logos(a Divindade manifesta) de nosso sistema e imagine todo o sistema como se contido nos limites de Sua consciência: n’Ele nós vivemos e nos movemos e temos nosso ser. Ele pode então seguir a linha de pensamento desenvolvida pela Sra. Besant no panfleto intitulado Sobre os Temperamentos; a saber, que ainda que possamos naturalmente pensar nos membros excelsos da Hierarquia como estando mui distantes de nós e quase além do alcance da nossa débil aspiração devido ao seu distanciamento dos interesses humanos mesquinhos, o inverso é que é a verdade, e nós estamos literalmente no mais íntimo contato com a consciência todo-abrangente do Logos. O estudante pode achar útil pensar sobre o aumento progressivo da aura à medida que o desenvolvimento espiritual é obtido; na do homem normal, na dos discípulos e iniciados, na aura do Mestre e na estreita relação de consciência entre o Mestre e seus discípulos e outros a quem está ajudando, na aura do Senhor Buda que de acordo com a tradição se estendia por quase três quilômetros em torno de Sua Pessoa, e entãoalçando-se em pensamento poderia conceber um ser cuja aura ou campo de consciência abrangesse a totalidade de nosso planeta, e n’Aquele que assim abraça todo o sistema a que pertencemos. Literalmente é verdadeiro que cada ação, cada sentimento e cada pensamento a que damos expressão são parte d’Ele; melhor, que nossa própria memória é parte de Sua memória, pois não é toda a recordação apenas o poder de tocar os registros akáshicos da natureza, que é só uma expressão de Si Mesmo? O estudante pode então passar a pensar em algumas daquelas qualidades que ele pode associar com a manifestação de Deus em Seu mundo; tomemos a justiça e a beleza e o amor; que a justiça do Supremo se revele nas invariáveis leis da natureza, na lei da conservação da energia, a fórmula de Newton que diz que ação e reação são equivalentes e opostas, na lei da retribuição kármica que dá a cada homem a justa paga por seus feitos. Que pense no que a fé no karma realmente implica: a mão que desfere um golpe terrível é o seu próprio passado redivivo; e com tais reflexões possa contentar-se com o que quer que suceda ou não a ele. Que pense ainda nas inumeráveis relações sob esta lei estreitadas entre um homem e outro, o desdobrar do plano de Deus no universo, e veja nestas complexas relações a imutável lei da justiça perfeita. Passando adiante para o aspecto da beleza ele pode estudar o extraordinário plano do Grande Arquiteto e Grande Geômetra do universo, e olhando com atenção mais fina para cada criatura da natureza possa perceber a universalidade daquele aspecto do Supremo que se expressa pela beleza ou harmonia. Passando da beleza natural para aquela criada pelo homem, ele pode voar alto nas asas da imaginação e contemplar as obras-primas da arte humana que se beiram o território da divindade, porque em plena verdade os materiais nas mãos do artista são os poderes divinos da natureza. Assim, na música, as poderosas estruturas sonoras refletem em muitos aspectos aquelas forças arquetípicas da natureza que emanam das resplandecentes hostes dos Gandharvas (os músicos celestes), revelando ao homem o poder do Verbo oculto e elevando-o para cima de volta ao reino de sua herança divina. E no amor compassivo do Supremo todas as relações humanas de ternura e amor têm sua origem. Ao olho do espírito a beleza da mulher não dá margem ao desejo carnal, mas é antes uma razão para que ela seja respeitada como uma criança de Deus e uma manifestação de Sua beleza suprema. Há somente um amor disseminado por todo o universo, dado pelo Divino Pai à custódia de Suas criaturas; é a única força primal que em seus aspectos criativos elementares produz a multiplicidade das formas e em seu aspecto mais elevado reúne as almas em direção à unidade na Vida Una. James Ingall Wedgwood (24mar1883 - 13mar1951) foi o primeiro Bispo Presidente da Igreja Católica Liberal. Wedgwood era um ex-anglicano, membro da Sociedade Teosófica e membro de uma ordem co-maçônico. Seu trabalho no Rito Liberal, assim como seus esforços para estabelecer um ramo progressiva do Santo da Igreja Católica e Apostólica, são os seus maiores legados. Selecionei alguns vídeos que denomino, DEUS EM AÇÃO: