segunda-feira, 23 de abril de 2012
ABC da Umbanda (vídeo: A História da Umbanda - Alexandre Cumino)
Aqui você encontra definições de termos usados correntemente nas giras pelas entidades de várias linhas umbandistas. Em geral, essas palavras vêm do iorubá, língua africana falada na Nigéria, em Benim e Togo. Aparecerão, também, alguns termos do tupi-guarani que foram incluídos a esse “vocabulário” com o abrasileiramento dos cultos africanos. Não será dada a origem específica de cada termo, apenas seu significado.
ABADÁ = túnica longa, de mangas largas, em geral branca, utilizada inicialmente por negros muçulmanos; hoje designa roupa com a qual se identificam grupos religiosos.
ADJÁ = espécie de sineta, às vezes múltipla (tem de 1 a 7 bocas), tocada nos rituais pelos pais-de-santo com a finalidade de invocar entidades e Orixás, seja para que venham participar dos trabalhos, seja para que atendam a algum pedido. É usado também para induzir os médiuns ao transe.
AGÔ = pedir agô é pedir licença, pedir permissão para realizar algo, pedir perdão.
AJEUM = comida servida dentro do terreiro.
ALGUIDAR = vasilha de barro empregada para fazer a comida destinada aos Orixás, também utilizada pelos guias para a realização de alguns trabalhos como acender velas, consagrar guias de contas etc.
AMACI = líquido preparado com ervas e água procedente de variadas fontes, usado para dar firmeza aos médiuns. As ervas costumam ser maceradas e ficam em repouso numa vasilha de louça por algum tempo (o tipo da erva e o tempo que devem ficar maceradas depende de cada Orixá). O poder das ervas e a força do ritual (colocação das ervas no ori do médium) propiciam uma conexão mais direta com o Orixá correspondente.
ARUANDA = Infinito, céu, morada do criador, plano espiritual mais elevado; nome dado ao local onde estão os guias que trabalham na Umbanda.
AXÉ = força, energia, poder. Pode ser a energia que está nos elementos puros da natureza ou a que está concentrada dentro de um terreiro, trazida pelos guias que ali trabalham (que formam a egrégora da casa) e pelos objetos mágicos utilizados, incluindo os fundamentos que, em geral, se encontram enterrados sob o solo do terreiro.
Palestra realizada no Núcleo Mata Verde, http://www.mataverde.org
BABALORIXÁ = pai-de-santo, chefe do terreiro, sacerdote de Umbanda e Candomblé; quando o dirigente é mulher deve-se usar YALORIXÁ.
BANZO = sentimento de saudade que os escravos sentiam de sua terra natal; nostalgia. Atualmente os pretos velhos usam a expressão para designar um estado emocional aproximado de depressão.
BARRACO, BURACO ou CAZUÁ = casa, residência da pessoa; pode ser usado também para designar um local qualquer, inclusive o próprio terreiro.
BATER PAÔ = bater palmas para despertar energias e chamar entidades. Maneira de apresentar-se ao Orixá para dizer: “aqui estou para reverenciá-lo; olhe por mim!”
BORI = ritual, em geral do Candomblé, no qual o médium oferece sua cabeça ao orixá.
BORÓ = pagamento que se faz em troca de um trabalho espiritual ou de oferendas a entidades. Também usado como sinônimo de dinheiro, assim como “PATACO”; “JIMBA” ou “JIMBO”; “PLATA” (no caso dos ciganos) ou “PRATA”; “COBRE”. Há inúmeras formas pelas quais os guias se referem à moeda corrente.
BURRO = modo como alguns guias (em geral os Exus) chamam seus médiuns. Estes são chamados também de CAVALO ou (no kardecismo) de APARELHO. Em todos os casos, a ideia é a de alguém que empresta seu corpo para ser utilizado por uma entidade que precisa realizar um trabalho espiritual.
CADINHO = presente, agrado.
CALUNGA PEQUENA= cemitério; também chamado de CAMPO SANTO.
CALUNGA GRANDE = mar, considerado o grande cemitério da humanidade.
CAMARINHA= espaço existente nos terreiros que tem como finalidade abrigar os médiuns em suas obrigações, em certos rituais, como a feitura de santo, por exemplo. Em geral é um compartimento isolado, para que o médium possa ter tranquilidade ao realizar suas obrigações ou meditações.
CANJERÊ = reunião de pessoas para a prática de cerimônias religiosas africanas, em geral para praticar o que os homens brancos chamavam de “feitiçaria”. O termo também é utilizado para designar uma dança nos moldes africanos.
CANJIRA = filho homem.
CASA GRANDE = hospital, clínica médica.
CATIRA = espécie de dança que lembra os movimentos rítmicos dos primitivos africanos. É mais praticada na zona rural: os dançarinos, em fileiras opostas, cantam e batem o pé para marcar o ritmo.
CATULAR = cortar o cabelo do médium na preparação do ritual de raspagem para iniciação.
CHAMEGO, DENGO = carinho, namoro, relações sexuais.
COITÉ = cumbuca feita originalmente de uma cabaça cortada ao meio no sentido horizontal; hoje é feito de casca de coco seco.
CONGÁ ou OCA= casa de fé; local onde se praticam os rituais. Em geral são chamados de Terreiros, Templos ou Tendas de Umbanda.
CORRE-CORRE = veículo, automóvel.
CUBATA = casa muito simples, choça ou choupana.
CURIAR = comer ou beber.
DEKÁ= ritual de comemoração do sétimo aniversário de iniciação sacerdotal; nessas ocasiões o pai-de-santo responsável pelo filho que comemora os sete anos entrega a ele os instrumentos necessários à prática religiosa, principalmente aqueles que serão utilizados quando da coroação de seus próprios filhos, como facas, navalhas, tesouras, cuias.
DJACUTÁ = originalmente é uma das qualidades de Xangô e refere-se à sua capacidade de arremessar pedras e raios. Por extensão de sentido, designa a força de determinadas pedras, consagradas com fins de dar firmeza ao médium e facilitar o recebimento de boas vibrações.
EBÓ = alimento ritualístico que é oferecido aos Orixás, podendo ser uma oferenda para agradar-lhe ou algo que vai servir como despacho para limpar energeticamente uma pessoa. Os alimentos, em geral, são passados pelo corpo da pessoa que está sendo tratada.
EGUM = originalmente é um ancestral morto, cultuado pelos africanos (iorubanos, grupo ético da Nigéria); nas giras, costuma-se chamar de egum ao espírito desencarnado que vaga, sem conseguir atingir evolução no mundo astral.
ELEDÁ = entidade protetora de uma pessoa, sincretizada, aqui no Brasil, com o Anjo da Guarda da cultura cristã.
ENCOSTO = espírito de desencarnado que se aproxima e “encosta” nas pessoas, trazendo-lhe prejuízos emocionais, espirituais e materiais, além de abalar a saúde (uma vez que suga as energias) da pessoa que está sendo vampirizada. Rezas, passes e banhos ajudam a afastá-lo, mas o ideal é a doutrinação, para que esse espírito encontre o caminho da evolução.
ENCRUZAR = fazer cruzes com a pemba na testa, nuca, mãos e pés do médium com a finalidade de protegê-lo ou de auxiliá-lo na ligação com as falanges que vão tomar conta dos trabalhos. O encruzamento também pode ocorrer no chão do terreiro, com a finalidade de trazer segurança aos trabalhos. Esse ritual é feito pelo dirigente, sob a irradiação de um ponto especificamente cantado para isso.
ESCREVINHADOR ou ESCREVEDOR= lápis, caneta, qualquer coisa que escreva.
FAZER A PASSAGEM = desencarnar.
FILÁ = originalmente feito de palha-da-costa, é o que recobre a cabeça de Omulu, de onde saem franjas que ocultam seu rosto. Atualmente, usa-se o termo para designar uma espécie de gorro ou lenço que o médium usa como proteção para seu ori.
FUNDANGA (ou TUIA, na linguagem dos caboclos) = pólvora quando usada para fazer descarrego. Por extensão, também se chama de fundanga o ritual em que a pólvora é queimada num círculo de fogo, abrindo em espiral um portal de uma terceira dimensão. A pólvora funciona como um acelerador de partículas, libera gases e corta os cordões fluídicos negativos, afastando das pessoas que estão dentro do círculo os elementos negativos e as larvas astrais que se desintegram na corrente elétrica criada. Por ser um elemento magístico poderoso, só pode ser utilizada por entidades que tenham a permissão para fazê-lo, na presença do dirigente da casa.
GAIOLA = apartamento; viver em gaiola significa morar num prédio de apartamentos.
GANGA = "nganga" é palavra de origem Kimbundo que significa mágico, feiticeiro ou vidente. Para os angola-congolenses é o chefe supremo, o Tata. O nome Ganga também denomina os chefes dos antigos terreiros cabindas.
GARRAFADA = mezinha (remédio caseiro) preparada pelos guias. Consiste em colocar ervas maceradas, raízes ou pedaços de cascas de plantas em garrafa (em geral de vinho branco licoroso) para que fique descansando por um certo tempo e depois seja ingerida pelo doente para a cura de determinados males. Às vezes os guias recomendam que a garrafada seja enterrada por alguns dias antes de ser consumida. Quando para uso externo, a poção pode ser feita em álcool de cereal.
GRIOT = pessoa responsável pela transmissão oral de histórias e costumes do povo africano. São sábios extremamente respeitados e também possuem atribuições magístico-religiosas. Muitos povos africanos são ágrafos; daí a importância dos griots.
HORA GRANDE = meia-noite; em oposição, costuma-se chamar de HORA PEQUENA ao meio-dia.
HOMEM DE BRANCO = médico, enfermeiro, pessoas ligadas à área da saúde.
IBI = lugar, chão, terra; por extensão de sentido pode ser usado como sepultura.
ILÊ = casa, moradia, residência; por extensão, a palavra é usada para designar barracões onde se pratica o Candomblé.
ITA = pedra de santo, pedra consagrada; às vezes os guias preparam “itas” que ficam ocultas no peji para proteção da casa.
JACI = Lua na fala de alguns caboclos, principalmente os de Oxóssi e Xangô.
LETRADO = indivíduo que tem estudo ou diploma.
LUA = corresponde ao período de um mês.
LUA GRANDE = corresponde ao período de um ano.
MACAIA = mata, lugar onde os guias (principalmente os da linha de Oxóssi) trabalham e os médiuns podem fazer oferendas e/ou “retiros” para, em contato com a natureza, readquirir forças psíquicas. Pode significar, também, as folhas dessa mata.
MANDINGA = originalmente, nome de um povo do norte da África e da língua falada por ele. Por extensão e deturpação de sentido, passou a determinar certas rezas ou “feitiçarias” que esse povo, como os brancos alegavam, deveria praticar.
MARAFO OU MARAFA = pinga, caninha, cachaça. Também usam PARATI.
MAZELA ou MAZELINHA = doenças, males físicos de que se sofre na Terra.
MIJO = cerveja.
MIRONGA = segredo, mistério, feitiço; conhecimento que alguns guias têm e usam para resolverem os problemas, sem que se possa entender como funciona.
MORUBIXABA = no sincretismo das religiões afro-brasileiras é nome que se dá aos guias ou entidades que incorporam em médiuns que assumem a direção espiritual de um Templo de Umbanda.
OBI = fruto africano utilizado em alguns rituais, oferecido para agradar os Orixás e trazer benefícios a quem o oferece.
ODU = destino.
OFÁ = arco e flecha empunhados por médiuns incorporados com Oxóssi em suas danças nos terreiros.
ORI = originalmente é um Orixá pessoal, a força e a intuição espiritual própria (e única) de uma pessoa, mas, na prática, essa palavra é usada para designar a cabeça e, mais especificamente a coroa, o chacra coronal. Em alguns cultos também se diz OTI.
ORÔ = preceito, costume tradicional que é repetido em alguns rituais, como, por exemplo, na coroação do médium.
OXÊ = machado de Xangô; é um machado de dois gumes que pode ser feito de madeira, cobre, bronze ou latão.
PADÊ – oferenda para Exu no início das sessões ou festas, constando de alimentos, bebidas, velas, flores etc, a fim de que se afastem as perturbações nas cerimônias.
PATUÁ = talismã ou breve (também chamado de escapulário) que se usa como forma de proteção. Em geral é uma espécie de saquinho feito de tecido virgem no qual se colocam elementos cruzados e “preparados” pelos guias: orações, guias de contas, búzios, dentes de animais, ervas, sal grosso, pedrinhas de cânfora ou de incenso. Costumam ser usados em correntes ou cordões, pendurados no pescoço.
PEJI = altar; local do terreiro destinado aos elementos materiais (imagens, velas, flores, ervas, pedras, armas simbólicas) que servirão de portal para captar e irradiar aos fiéis as energias positivas e o magnetismo vindos das divindades. Os elementos devem estar consagrados de acordo com rituais específicos. Todo cuidado é pouco quando se toca nos objetos do peji.
PERNA DE CALÇA = marido, namorado ou companheiro. Também usam MULUNGO.
PITO = cigarro, charuto ou cachimbo que as entidades fumam para, por meio da fumaça, descarregar seus médiuns da carga negativa que possa vir dos consulentes. Os caboclos guardam esse hábito da pajelança indígena, ritual que foi acrescentado ao culto dos Orixás africanos.
PONTEIRO = pequeno punhal utilizado em magias e em alguns rituais.
PROSEADO = conversa com os guias; em geral tem uma conotação de aconselhamento moral, admoestação. Não é uma conversa social em que se discutirão banalidades.
QUIZILA = antipatia, zanga, aversão, inimizade; muitas vezes, para não provocar quizila com os Orixás, os médiuns são obrigados a não ingerir certos alimentos.
RABO DE SAIA = esposa, namorada ou companheira. Também usam MULUNGA.
RÁBULA = termo com que se designam os que conhecem o Direito e exercem livremente a advocacia, sem que sejam legalmente formados por curso de nível superior. Na Umbanda, o Sr. Zé Pelintra é considerado rábula por conhecer as leis, mas não possuir diploma.
RISCADOR = pemba
RONCÓ = quarto de santo destinado à iniciação dos médiuns ou à realização de alguns rituais fechados.
SARAVÁ = usa-se como uma saudação nos terreiros, com o significado de “salve”, "seja bem-vindo", “salve sua força”. A palavra que lhe deu origem é SALVAR. Os escravos tinham dificuldade para pronunciá-la, e diziam “vamu salavar”, acrescentando uma vogal A depois do L. Sob a influência da fonologia banta, houve a troca da consoante L pelo R e a palavra passou a ser pronunciada “saravá”, com a perda do R final. Com o tempo, o verbo se tornou substantivo, como sinônimo de “culto”: hoje se diz: “vamos num saravá”.
SINHAZINHA= criança do sexo feminino, menina-moça.
TOCO, PAVIO, LUZ ou SEBO = vela
TRABUCO = trabalho, emprego, ganha-pão; TRABUCAR é trabalhar.
TUPÃ = Olorum na fala alguns caboclos, principalmente os de Oxóssi e Xangô.
YABÁS = termo com o qual se designam as Orixás femininas: Yansã, Yemanjá, Oxum, Obá, Oyá, Nanã, Egunitá.
ZAMBI = Olorum na fala dos Pretos Velhos.
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