terça-feira, 21 de junho de 2011

Zoroastro e os chackras - Graham Brown, 2003 (vídeo: Construindo um Império: Os Persas)


Como muitos dos grandes profetas, Zaratustra estabeleceu um único Deus, a quem ele chamou Ahura Mazda, para estabelecer as bases de sua crença. Depois de um tempo meditando no deserto ele tomou consciência do Eu Singular (único, sem igual, como está descrito nos Upanishads), e desejou que as pessoas desviassem sua atenção da multiplicidade das coisas externas para este Si único. Todavia, este Monad 1 não era um simples monólito; estava mais para uma pedra preciosa multi facetada. A fim de realizar a criação e conservação do mundo, ele atribuiu a seis seres divinos (conhecidos como Amesha Spentas) e a si próprio, esta incumbência.

As antigas divindades iranianas, que são arquétipos, encontrados em todo o politeísmo do mundo antigo, desde o Egito à Índia, não foram inteiramente abandonados, mas estavam identificados com esses setes seres angelicais ou Imortais. A maior parte dos louvores de Zaratustra eram dirigidos à Amesha Spenta feminina, chamada Aramaiti:

“Quando Oh Mazda, irá Aramaiti, sua amorosa Devoção em harmonia com a Verdade, apascentar-nos com proteção e riqueza, em sua Soberania?”

“Oh Mazda, quando vossa pura sabedoria junto a Khashathra e Volhuman chegar até nós, então o mundo material irá evoluir em direção à Verdade e à Justiça e o anjo Aramaiti iluminará os corações dos homens e mulheres de boa vontade com a luz do amor e da fé, guiando-os em direção à verdade. Então nenhum deles terá poder de trair a Deus, Todo Poderoso, símbolo de Sabedoria e Conhecimento.”

“Guia-me em direção à verdade e pureza, pela qual eu tenho ansiado, oh meu Senhor. Seguindo Aramaiti, símbolo de fé e amor, eu espero alcançar a perfeição.”

Ushtavad Gatha, Yasna 43

Esta imagem consoladora, associada à Mãe Terra é de grande importância nas Gathas, ou canções, atribuídas ao próprio profeta, e que formam a essência do Zoroatrismo. Ela retrata, e parece ter influenciado o aspecto feminino de Deus – a Sabedoria – encontrada no judaismo e no cristianismo gnóstico.

A linguagem iraniana arcaica Avestan e os Vedas, em sânscrito, da Índia estão muito próximos nestes relatos: ‘gatha’ é o equivalente a ‘guita’ como no ‘Bhagavad Gita’. Mais que apenas palavras, as duas culturas partilham também muitos conceitos espirituais, incluindo a reverência aos elementos, particularmente o fogo, como um aspecto do Supremo. O zoroatrismo tem tanto respeito pelos elementos que, em vez de poluí-los com o sepultamento ou a cremação, eles preferem deixar seus mortos em ‘Torres de Silêncio’ (ou Torres do Sol), onde podem ser consumidos pelos abutres.

Os seguidores de Zoroastro refugiados chegaram à região de Gujarat, Índia no sec. 8 d.C. (perseguidos pelo Império Árabe-Muçulmano que dominou a Pérsia) e não é de se surpreender que, na atmosfera de relativa tolerância da cultura Hindu, na qual eles foram recebidos, alguns pensadores persas procuraram e encontraram semelhanças entre sua cosmologia e a dos Hindus (conforme Helena Blavatski é o comum de todas as importantes religiões antigas). Os sete Amesha Spentas descritos por Zoroastro em sua Gathas tem sido comparado por alguns hindus persas, com os Sete Chakras (centro sutis) da yoga tradicional, cada um deles também representando um aspecto da criação.

Aqui há uma comparação entre os imortais de Zoroastro e os chakras, os quais podem ser pensados como estágios para se ascender a Deus (as qualidades dos chakras são como é ensinado por Shri Mataji Nirmala Devi):

1. Vohu Mana – Mooladhara chakra, (centro da base). Vohu Mana representa sabedoria. Inocência e sabedoria são as qualidades do Mooladhara.

2. Asha Vahista – Swadisthana chakra, (centro pélvico). Asha Vahista é a ‘boa verdade’. Puro conhecimento é a qualidade do Swadisthana, ao lado da criatividade.

3. Khashatra Vairya- Nabhi Chakra, (centro do umbigo). Khashatra Vairya é a harmonia na natureza. O nabhi é o centro da paz, harmonia, equilíbrio.

4. Spenta Aramaiti – Anahata Chakra (centro do coração). Spenta Aramaiti é a justiça, honestidade e amor. O centro do coração é amor e responsabilidade.

5. Haurvatata – Vishuddhi chakra (centro da garganta). Haurvatata representa perfeição. Vishuddhi significa ‘puro’.

6. Ameretat – Agnya Chakra. (centro da testa). Ameretat significa imortalidade (a palavra latim está relatada na língua persa e também em sânscrito ‘amrut’). O Agnya chakra representa o momento na revolução humana onde Cristo sobrepujou a morte.

7. Ahuramazda – Sahasrara chakra (centro da cabeça, no cume). Ahuramazda representa a unidade Divina. O Sahasrara é o centro da integração.

Estes são os níveis da realização do Si, união com o divino ou yoga.

No sistema zoroastrista, Sabedoria é necessária para se ter Conhecimento; Conhecimento é necessário para a Harmonia com a natureza; Harmonia com a natureza leva à Justiça e Amor, que leva à Perfeição, que leva à Imortalidade e daí à realização do Si.

Zaratustra descreveu as sete qualidades para o Absoluto, não meramente compromissado com as antigas religiões de vários deuses. Ele queria que seus seguidores se esforçassem para despertar essas qualidades em si próprios. Seu conceito de emanações vindas da Divindade formou as bases do Cristianismo Gnóstico e influenciou o desenvolvimento do aspecto místico do Judaismo – a Cabala.

Benevolência para com os outros é a essência dos ensinamentos do profeta, contidos nas palavras: “Bons Pensamentos, Boas Palavras, Boas Ações”. Muitos profetas posteriores passaram semelhantes ensinamentos e é fácil subestimar a revolucionária natureza das idéias de Zaratustra, uma das mais importantes é o conceito do livre arbítrio.

Os adeptos das religiões monoteistas devem muito à Zaratustra e puderam se beneficiar de seus conceitos de um único Deus com múltiplos aspectos criativos, tanto masculino como feminino. Na yoga esses são concebidos como sete flores como os centros espirituais, em cada um residindo a divindade ou o aspecto do Si, como a única Árvore da Vida.

O zoroastrismo tornou-se patriarcal, como as outras religiões monoteistas, mas o reconhecimento de Zaratustra do aspecto feminino do divino, na forma de Aramaiti, permanece como um legado permanente.
Oh Ahura Mazda, Vossa tem sido Aramaiti,
Vossa tem sido a Sabedoria criativa da Vida.
Em nossa carne colocastes a Vida
Concebestes-nos Palavras para guiar e força para agir.
Assim escolhemos livremente nosso caminho a trilhar
Assim cada um, se iluminado ou obscuramente
Se verdadeiramente ou falsamente
Eleva sua voz para falar
Mas ao coração e à cabeça de cada um,
Diretamente pelo espírito, Aramaiti vem a nós.
Ela mantém-se como nossa conselheira sempre que estivermos em dúvida.

E pensar que a Igreja Romana destruiu todo este conhecimento doutrinário que dispunhámos no Mitraismo, em Roma, até os anos 400 desta Era. O Hinduismo, como se verifica no texto deste pesquisador, é a Doutrina dos Persas, doutrina que hoje, a partir de Helena Blavatsky, buscamos seus conhecimentos, de novo, no Oriente.

Há muito tempo, nas estepes a perder de vista da Ásia Central perto do Mar de Aral, havia uma pequena vila de casas de adobe, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto dia da primavera, um menino nasceu naquela família. A sua mãe e seu pai decidiram dar-lhe o nome de Zaratustra. Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebê rir ao nascer. Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Pourushaspa Spitama, vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!". Pourushaspa não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova. Na manhã seguinte Pourushaspa fez uma grande fogueira, e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso. Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebê não sofreu um só arranhão. O sacerdote logo arquitetou outro plano. O menino Zaratustra foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila.

Ao crescer, Zaratustra peramburalava pelas estepes indagando-se: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a sua natural bondade e justiça?". Um dia Zaratustra estava meditando às margens de um rio quando um ser estranho lhe apareceu. Ele era indescritível, tal a sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou-lhe quem era ele, ao que teve como resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim lhe buscar". E tomou-lhe a mão, e o levou para um lugar muito bonito, onde sete outros seres os esperavam. A Boa Mente disse-lhe então: "Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.”
Zaratustra contestou: "Por que eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em coro: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações". Zaratustra voltou para casa e contou a todos o que lhe acontecera. A sua família aceitou o que ele havia descoberto, mas os sacerdotes o rejeitaram. Eles argumentaram: "Se é assim nada há de especial em nosso serviço, nada valem nossos sacrifícios e perderemos o poder que nos dão os deuses ciumentos e caprichos que servimos. Estamos sem trabalho e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da vida de Zaratustra. Com sua boa mente ele entendeu que tinha que sair dali por uns tempos. Chamou seus vinte e dois companheiros e companheiras de primeira hora e fugiram com tudo o que tinham. Eles viajaram durante várias semanas até chegarem a um lugar cujo governante chamava-se Vishtaspa. Zaratustra procurou Vishtaspa e partilhou com ela a sua descoberta. Vishtaspa respondeu ao seu apelo com uma recusa: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são, com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!".

Após dois anos tentando convencer Vistaspa, e enfrentando a mais cruel oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de Vishtaspa ajudou a resolver a favor de Zaratustra esse impasse. À beira de morte, o cavalo tornou-se o pivot de todas as atenções. Vistaspa chamou sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos. Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo de Vishtaspa só piorava. Zaratustra, que fora criado num ambiente rural, logo percebeu que ele fora envenenado. Procurando Vishtaspa ele sugeriu um remédio muito usado nesses casos em sua terra. Sem alternativas, embora descrente, Vishtaspa aceitou a idéia de Zaratustra e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal do doença. Todos ficaram pasmos e acharam que Zaratustra tinha operado um milagre. Ele respondeu que havia apenas usado a sua boa mente e os conhecimentos que tinha adquirido em casa. Vishtaspa e sua família ficaram encantados com a honestidade e simplicidade de Zaratustra, e dispuseram-se a ouvi-lo de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em pouco tempo não só Vishtaspa e sua família haviam sido iniciados, como também grande parte de seu povo. Embora Zaratustra pudesse ter usado a ocasião da cura do cavalo de Vishtaspa para arrogar-se poderes sobrenaturais ele preferiu ser sincero, e foi isso o que de fato mostrou a Vishtaspa a sublime beleza e profundidade da mensagem.

Dos 20 aos 30 anos, segundo narrativas que chegaram a nós, Zaratustra viveu quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Não ingeria nenhum alimento de origem animal. Em outros relatos, teria ido ao deserto, onde fora tentado pelo diabo, mas não sucumbiu à tentação, de modo semelhante a Jesus, nos quarenta dias de provação no deserto. Após sete anos de solidão completa, regressou ao seu povo, e com a idade de trinta anos recebeu a revelação divina por meio de sete visões ou idéias. Assim começou Zaratustra a sua missão aos trinta anos (a mesma idade em que o Zaratustra de Nietzsche iniciou a dele). Segundo os Masdeístas ele encontrou muita dificuldade para converter as pessoas à sua nova religião. Em dez anos de pregação teve somente um crente: o seu primo. Durante este período, o chamado de Zaratustra foi como uma voz no deserto. Ninguém o escutava. Ninguém o entendia. Foi perseguido e hostilizado pelos sacerdotes e por toda a sorte de inimigos ao longo de dez anos. Os príncipes recusaram dar-lhe apoio e proteção e encarceraram-no porque a sua nova mensagem ameaçava a tradição e causava confusão nas mentes de seus súbditos. Com 40 anos, realizou milagres e preocupava-se com a instrução do povo. Converteu o rei Vishtaspa, que se tornou um fervoroso seguidor da religião por ele pregada, iniciando a verdadeira difusão dos ensinamentos de Zaratustra e de uma grande reforma religiosa. Logo em seguida, a corte real seguiu os passos do rei e, mais tarde, o Masdeísmo chegou a ser a religião oficial da Pérsia. No império dos reis Sassânidas, principalmente no de Ardashir (227 a.C.), o chefe religioso era a segunda pessoa no Estado depois do imperador soberano, e este, inteiramente de acordo com o antigo costume, era admitido como divino ou semidivino, vivendo em particular intimidade com Ormuzd. Aos 77 anos de idade ele teria morrido assassinado enquanto rezava no templo, diante do fogo sagrado. Segundo alguns relatos, o seu túmulo estaria em Persépolis.

Na doutrina zaratustriana, antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos: os espíritos do Bem (Ahura Mazda, Spenta Mainyu, ou Ormuz) e do Mal (Angra Mainyu ou Arimã). Divindades menores, gênios e espíritos ajudavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e a legião do mal. Entre as divindades auxiliares, como consta no Avesta a mais importante era Mithra, um deus benéfico que exercia funções de juiz das almas. No final do século III d.C, a religião de Mithra fundiu-se com cultos solares de procedência oriental, configurando-se no culto do Sol.
Arimã é representado como uma serpente. Criador de tudo que há de ruim (crime, mentira, dor, secas, trevas, doenças, pecados, entre outros), ele é o espírito hostil, destruidor, que vive no deserto entre sombras eternas. Ormuzd, no entanto, é o Criador original, organizador do mundo de modo perfeito.
Ahura Mazda é representado também como o divino Lavrador, o que mostra o enraizamento do culto na civilização agrícola, na qual o cultivo da terra era um dever sagrado. No plano cosmológico, contudo, ele é o criador do universo e da raça humana, com poderes para sustentar e prover todos os seres, na luz e na glória supremas.
Bem e Mal não são apenas valores morais reguladores da vida cotidiana dos humanos, mas são transfigurados em princípios cósmicos, em perpétua discórdia. A luta entre Bem e Mal origina todas as alternativas da vida do universo e da humanidade. A vitória definitiva de Ormuzde sobre Arimã só poderia ocorrer se Zaratustra conseguisse formar uma legião de seguidores e servidores, forte o bastante para vencer o Espírito Hostil, e expurgar o Mal do universo. Nesse sentido, Bem e Mal são princípios criadores e estruturadores do universo, que podem ser observados na natureza e encontram-se presentes na alma humana. A vida humana é uma luta incessante para atingir a bondade e a pureza, para vencer Angra Mainyu e toda a sua legião de demônios cuja vontade é destruir o mundo criado por Ahura Mazda.
A doutrina de Zaratustra é escatológica. De acordo com os seus preceitos, o mundo duraria doze mil anos. No fim de nove mil anos, ocorreria a segunda vinda de Zaratustra como um sinal e uma promessa de redenção final dos bons. Isso seria seguido do nascimento miraculoso do Saoshyant, equivalente ao Messias hebreu, cuja missão seria aperfeiçoar os bons para o fim do mundo, da história humana, enfim, para a vitória do Bem sobre as forças do Mal. A cada mil anos viria um profeta/messias (Saoshyant).
Assim, nos últimos três milênios, três Saoshyant preparariam a completude do grande ano cósmico. É neste sentido que Nietzsche menciona Zaratustra como aquele que compreendeu a História em toda a sua completude. Cada série de desenvolvimento da História seria presidida por um profeta, que teria seu hazar, seu reino de mil anos. O Zaratustra histórico, no entanto, anuncia a chegada do tempo em que surgirá da raça persa o Shah Bahram, o Senhor Prometido, o Salvador do Mundo, o Grande Mensageiro da Paz.
No final dos tempos haveria o julgamento derradeiro de todas as almas e a ressurreição dos mortos. Não fica claro se o inferno tem duração eterna, se os maus se agitarão eternamente "nas trevas". Nos Gathas, cantos de Zaratustra, consta também que o mal poderia ser banido para sempre do universo, com o nascimento de um novo mundo, física e espiritualmente perfeito, aqui na Terra. Não seria possível, assim, a coexistência de um mundo físico degradado e um mundo hiperfísico perfeito.
Os gregos enfatizaram, no profeta persa, mais a astrologia e a cosmologia do que o dualismo moral. Para eles, Zoroastro é um ser mítico, um astrólogo, legendário fundador da seita dos magos. Os aspectos cosmológicos, soteriológicos (relativos à parte da Teologia que trata da salvação do homem), teológicos e morais do Masdeísmo estavam contidos nos Pahlavi (principalmente no Denkard), livros baseados no Avesta. Mas esses textos estão perdidos.
O dualismo cósmico e teogônico do Masdeísmo está intimamente relacionado ao dualismo moral. Zaratustra, com a sua mensagem divina, provocou uma verdadeira transformação no modo de pensar da sua civilização, contrariando o tradicional pensamento dos sábios de sua época. Sua mensagem baseava-se nos Gathas, cantos entoados com o objetivo de serem um guia para a humanidade – continham o triplo princípio de boa mente, boas palavras e boas ações. O Bem e o Mal, para Zaratustra, manifestam-se também na alma humana, e a única forma de poder organizar o mundo e a sociedade é estando o Bem acima do Mal. Este não traz contribuição alguma para a construção de uma vida boa, já que impossibilita uma relação equilibrada entre ser humano, sociedade, natureza e o ser.
Zaratustra propõe que o homem encontre o seu lugar no planeta de forma harmoniosa, buscando o equilíbrio com o meio (natural e social), respeitando e protegendo terra, água, ar, fogo e a comunidade. O cultivo de mente, palavras e ações boas é de livre escolha: o indivíduo deve decidir perante as circunstâncias que se apresentam em determinado fato. A boa deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada ação faz surgir uma responsabilidade social para colaborar com o projeto que Deus propôs ao mundo. Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou para praticar boas ações. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura conforme a sua conduta.
Os principais mandamentos são: falar a verdade, cumprir com o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar o outro da mesma forma que deseja ser tratado. Por isso, a regra de ouro do Masdeísmo é: "Age como gostarias que agissem contigo".
Entre as condutas proibidas destacavam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros a um integrante da religião era considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.
As virtudes como justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual e, conseqüentemente, coletivo. A comunidade somente pode surgir quando o indivíduo se vê como autônomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento harmonioso com os outros seres.
Por isso, eram incentivadas as virtudes econômicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão, semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o pobre e ser hospitaleiros.
A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si, jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o fato de essas práticas prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos.
As revelações e profecias de Zaratustra estão contidas nos Gathas, cinco hinos que formam a mais antiga parte do livro do Masdeísmo, o Avesta. Os Gathas datam do final do segundo milênio a.C. Foram escritos numa língua do nordeste do Irã, aparentada ao sânscrito, o avestan gático. Originalmente, esses hinos eram transmitidos oralmente. Grande parte do Avesta original foi destruída, com a invasão de Alexandre Magno e com o domínio posterior do Islamismo. As escrituras sagradas do Masdeísmo, o Avesta ou Zend-Avesta, como se tornaram mais conhecidas no ocidente, significam "comentário sobre o conhecimento".
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Seu monoteísmo influenciou as doutrinas judaica, Cristãs e Islâmicas. Após o domínio Islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde foi estabelecida a comunidade Parsi. No Irã, permanece ainda a comunidade Zardushti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo) não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos. Na atualidade há uma maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos casamentos realizados entre etnias distintas.
Como já mencionado, a base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião consiste em evitar o mal por intermédio de uma distinção rigorosa entre Bem e Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude, por meio de sete ideais, personificados em sete espíritos, os Imortais Sagrados: o próprio Ahura Mazda, concebido como criador e espírito santo; Vohu Mano, o Espírito do Bem; Asa-Vahista, que simboliza a Retidão Suprema; Khsathra Varya, o Espírito do Governo Ideal;Spenta Armaiti, a Piedade Sagrada; Haurvatãt, a Perfeição; e Ameretãt, a Imortalidade. Estes deuses enfrentam constantemente as forças do Mal, os maus pensamentos, a mentira, a rebelião, a doença e a morte. O príncipe destas forças é Angra Mainyu, o Espírito Hostil, também conhecido como Arimã.
A adoração a Ahura Mazda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, erguidos geralmente em lugares elevados das montanhas, onde se faziam oferendas. Os magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os cultos – são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria enviado a Israel sacerdotes do Zoroastrismo, que seguiram uma estrela até Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias.
Zaratustra transmitira, aos magos e adeptos, os segredos e a verdade suprema que lhe foram revelados por Ahura Mazda por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o Cristianismo, o judaísmo e o islamismo, também no zoroastrismo a revelação divina é elemento essencial.
A religião Masdeísta diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem–Mal, mas também pelo caráter escatológico. Entre os seus dogmas, estão a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e o seu julgamento.
Conforme os seus méritos ou pecados, elas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas ficavam expostos em altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição, secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Desse modo, Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história por ter erigido um sistema de fé religiosa desenvolvido e estruturado.
Enquanto religião ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de seu povo a fim de erradicar o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia. Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada. Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos. Eis algumas frases ou ditos a ele atribuídos:
"O que vale mais num trabalho é a dedicação do trabalhador".
"O que lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer".
"Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus."
"Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus irmãos de todo o mundo."
"O que semeia milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado."

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